quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Relato de parto e Pós Parto



Relato de parto e pós parto

Obs: Esse relato ficou quase um livro...rsrsrs
Publiquei originalmente na minha conta pessoal do Facebook há dois meses.

Eu jamais pensei em fazer um relato de parto antes de ler inúmeros nesta última gestação. Achei que me ajudou, acho que meu relato também pode ajudar alguém. 

Primeiramente, é bom dizer que meus dois filhos mais velhos nasceram por cesárea. Já há alguns anos pensávamos em ter outro filho, mas eu nem me preocupava com o tipo de parto que eu teria. Davi (meu primogênito, hoje com 11 anos) completou 40 semanas e eu não entrei em trabalho de parto, fiz uma ultrassom numa segunda-feira e a médica disse que ele estava praticamente sem líquido amniótico e que eu deveria me internar no mesmo dia e fazer a cesárea. Ainda pedi para esperar para a terça porque eu pensava em ter parto normal (mas nunca tinha lido nada a respeito) e achava que ele poderia nascer até o dia seguinte, o que não aconteceu e eu acabei fazendo a cesárea. Detestei o pós parto. Não conseguia me mexer, dependia de alguém para me levantar da cama, tomar banho, cuidar do meu filho, nunca tinha feito nenhuma cirurgia na minha vida , nem engessado um braço, então pra mim, passar por aquilo foi um choque. 

Seis meses depois lá estava eu, grávida novamente. Quando fui na minha médica ela já olhou pra mim e disse: Sabe que vai ser outra cesárea né? O seu útero ainda não se recuperou da última cirurgia. Nem discuti. E fiz outra cesárea. Essa última foi pior que a primeira. Durante a cirurgia eu vomitei, depois que Pedrinho nasceu, vomitei, quando minha família tava lá me visitando e dando os parabéns eu tava vomitando na frente de todo mundo no quarto. Mas já sabia como era, então tive um pós parto melhor que o de Davi. 

Quase 10 anos depois muita coisa mudou com relação ao acesso à informação. Depois que eu já tinha tido meus dois filhos que eu comecei a ler sobre partos. Mas isso bem informalmente, só por curiosidade. E então, quando descobri que estava grávida novamente, comecei a intensificar minhas leituras sobre o assunto. 

Na minha cabeça eu tinha uma ideia: Se eu pudesse, teria um parto normal. Só depois que eu descobri as diferenças entre “normal“, “vaginal”,  “natural“, “humanizado" e um monte de termos que achei bem interessantes. Nas primeiras consultas do pré natal perguntei para a médica se seria possível ter um parto normal após duas cesáreas, ela disse que era preciso fazer uma avaliação durante a gestação para saber dos riscos e blábláblá, mas que sim, era possível. 

Passei toda a gestação super bem (exceto pelos enjôos que duraram 2 meses ininterruptos, o que não é considerado um problema na gestação). Minha pressão arterial praticamente na casa dos 11/6 em todas as consultas, ganhei 13 kg em toda a gestação, nenhum problema de diabetes, o coração de Deborah sempre com os batimentos bons, ultrassonografias e exames com tudo dentro dos conformes, enfim,  uma gravidez super saudável. 

Durante o acompanhamento eu expliquei porque eu fiz cesárea, porque eu queria parto normal e até então os médicos diziam que tava tudo bem, tudo ok com o parto normal. Já lá pela 32ª semana fui para a consulta e a médica que me atendeu no dia perguntou por que era que eu queria parto normal, e disse que era muito melhor eu fazer uma cesárea. Fiquei meio nervosa e com dúvidas na hora. Na consulta seguinte perguntei para o outro médico de plantão se era possível ou não, aconselhável ou não tentar um parto normal. (Aqui eu não tive um(a) mesmo(a) médico(a) durante toda a gestação, a cada consulta eu era atendida pelo plantonista do dia que me atendia depois de ler o meu histórico).

Eu sou uma pessoa que não gosta de correr muitos riscos. Já tinha sido informada que o risco de ruptura do útero durante o trabalho de parto para quem teve UMA cesárea é de 1%, para quem teve DUAS, 2%. E se caso isso acontecesse, as consequências seriam bem sérias, ao ponto de até ser preciso retirar o útero emergencialmente. Mas também vi que as chances de sucesso eram de mais ou menos 80% dos casos, e os que não terminavam em parto normal, acabavam em outra cesárea. Então eu tinha a opção de olhar para 2% de chance de dar errado ou 80% de chance de dar certo. Achei que valeria a pena tentar o parto normal. Mas eu sabia que tinha que entrar em trabalho de parto sozinha, sem indução. 

Então o médico pediu uma ultrassom para ver a posição do bebê, o tamanho e o líquido amniótico para saber se tava tudo dentro dos padrões. Fiz a ultrassom com 35 semanas e tava tudo bem, e ela já estava cefálica. Na consulta de 38 semanas (terça-feira, 6 de agosto) a médica me avaliou e perguntou se eu queria que ela examinasse se eu já tinha alguma dilatação. Eu sei que é um exame horrível, mas eu tava nessa expectativa e fiz, zero de dilatação. E enquanto tava vendo o horário da minha próxima consulta com o médico, descobri que a plantonista da semana anterior tinha agendado uma cesárea para mim na segunda-feira seguinte (12 de agosto). Aí eu: Oi? Como assim? Eu nem vou ter completado 39 semanas. Disse que não queria fazer a cesárea antes das 40 semanas. Se tava tudo bem, não havia motivo para isso. Então disseram que realmente não sabiam como tinham marcado sem me comunicar, mas que por via das dúvidas iriam deixar uma cesárea marcada para quando eu completasse as 40 semanas. 

A partir daí já comecei a ficar tensa e preocupada. O impressionante é que todo o desconforto que eu tava sentindo (cansaço, noites mal dormidas, xixi o dia inteiro) passou! Eu tava me sentindo ótima e isso me preocupava porque era exatamente assim que eu tava antes de Davi nascer. Aí intensifiquei minhas pesquisas sobre o que acelerava o trabalho de parto. Passei a ler todos os posts de vários perfis no Instagram sobre gestação. Caminhava mais, me agachava, ia na piscina, tomava banho de banheira, comprei dois sacos de tâmaras para comer, se mandassem eu dar sete mergulhos no rio Jordão eu ia. 

Na semana seguinte, terça 13 de agosto, 39 semanas, na consulta do pré natal, tudo a mesma coisa: tudo ótimo, lindo e maravilhoso e zero de dilatação. A médica disse que tinham agendado a minha cesárea para o dia 19 de agosto, na segunda seguinte, um dia antes das 40 semanas. Fui pra casa pensando e orando: “Deus, eu não vou pedir pra remarcar." Eu não estava segura em bater  o pé e dizer que não iria para o hospital na segunda, mas sim, isso passou pela minha cabeça. 

Continuei com o meu plano de aceleração do parto e nada. Não sentia uma dor na unha. Então enquanto eu tava orando e conversando com Deus sobre isso, o Espírito Santo me fez lembrar de um verso dos Salmos: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam." Naquele momento eu entendi que não importava o que eu fizesse, Deus é quem tinha o controle de todas as coisas. Pedi oração na igreja, passei a situação para minha família e deixei de lado tudo (só continuei comendo as tâmaras heheh).

Na sexta-feira comecei a sentir umas cólicas fortes, do tipo cólica menstrual só que mais forte, já fiquei animada. Fui toda possante começar a contar as contrações no aplicativo. Aí notei que o intervalo em minutos variava 10, 30, 20, passou uma hora sem vir, depois ficou 4 horas sem vir, ou seja, tudo doido. Mesmo assim na noite da sexta-feira fui no hospital dizendo que tava sentindo contrações (vai que, né?) Chegando lá, me examinaram, nem contração, nem dilatação. Voltei pra casa. 

No sábado, obriguei Davi e Pedrinho a irem caminhar comigo no parquinho, passei umas duas horas na banheira de água morna, coloquei roupa pra lavar, fiz agachamento, tava pirando já. Aí o Espírito Santo novamente me lembrava o mesmo texto bíblico: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam. Se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela." Foi um tapa na minha cara, eu vi que não adiantava o que eu fizesse, Deborah ia chegar da maneira que Deus quisesse. 

Passei o domingo com cólicas, mas nada que me fizesse ir para o hospital. E também joguei a toalha, não fiz mais nada. Tinha que parar de comer na meia noite do domingo para ir para o hospital na segunda pela manhã fazer a cesárea. Os meninos foram dormir, Bruno foi dormir e eu desde o sábado tava dormindo no sofá, por que não aguentava mais a cama. Comi as últimas tâmaras do saquinho, tomei banho e fui pro sofá. 

Orei, peguei minha Bíblia e pensei: O que eu vou ler? Nas semanas anteriores eu tinha ouvido uma pregação que falou muito comigo. Falando sobre família, filhos. O texto base era o Salmo 127, onde se fala que os filhos são herança do Senhor, que são como flechas e que feliz é o homem que enche sua aljava. No entanto, o Espírito Santo me direcionou a ler o Salmo que ele tinha me lembrado: Se o Senhor não edificar... Quando fui lendo o Salmo 127 percebi que era o mesmo Salmo! Chorei e percebi que Deus continuava falando comigo: EU tenho o controle das coisas e faço o que EU quero,  do jeito que EU quero. 

Não precisa dizer que praticamente eu não dormi nessa noite, além das dores, preocupação, tristeza, angústia. Levantei às 6 da manhã para tomar outro banho e dar escova no cabelo (já que era pra ir contrariada, pelo menos o cabelo ia arrumado, né?) Bruno acordou, acordamos os meninos, levamos eles pra casa de uma irmã que ia ficar com eles e fomos para o hospital. 

É triste o que eu vou dizer, mas é verdade, eu não fui feliz para o hospital. Cheguei lá e a atendente perguntou se eu estava lá para uma cesárea ou indução, e eu disse que tinha uma cesárea marcada e fomos para a sala de pré atendimento. Eles viram os meus registros e disseram: “Hum, aqui tá dizendo que você quer ter um parto normal." E eu: "Sim, se possível e se for seguro, eu quero." A médica residente disse: "Ok, vamos fazer uma avaliação, vou conversar com a equipe médica e nós vamos ver essa possibilidade." 

Enquanto isso lá estava eu respondendo ao questionário do anestesista que só faltou perguntar o CPF da minha mãe. Questionário para todo tipo de anestesia. Um tempo depois a médica e a residente voltam e dizem: "Ok, como as suas contratações estão ritmadas e vc está com 1cm de dilatação, podemos sim esperar a evolução do parto normal e vamos tentar fazer uma indução mecânica (sem uso de medicamentos) e se necessário, vamos usar a ocitocina sintética." 

Aquilo me deu um alívio tão grande que eu acho que todo mundo que olhou pra minha cara percebeu a minha felicidade. Então segunda-feira, 9 da manhã, lá estava eu no hospital para esperar Deborah chegar. Fui para uma sala de parto normal, individual, coloquei minhas coisas lá e a enfermeira mandou eu caminhar pelos corredores do andar em que eu estava e depois ela iria fazer uma avaliação. Caminhei bem feliz e sorridente pelos corredores, mas preocupada, porque as outras mulheres que eu via caminhando já estavam com a cara de arrasada e o batom que eu tinha passado de manhã nem tinha saído ainda. Caminhei umas 3 horas sentindo algumas contratações, mas nada de insuportável. A enfermeira me avaliou novamente, ainda 1 centímetro de dilatação. 

A médica disse que o próximo passo seria colocar um balão de ar para ajudar na dilatação, e eu: tá ok então. Colocamos o balão e ele tinha que sair sozinho (o que indicaria que eu tinha dilatado o esperado). O tal do balão só saiu à noite. Tinha passado o dia inteiro para dilatar 3 centímetros. Então comecei a usar a bola de pilates, uma outra bola que eles chamam peanut (amendoim), fiquei andando no quarto, agachando, alongando. A esse ponto as dores aumentaram, mas ainda não tinha chorado de dor. 

Aí umas 9 da noite a médica veio estourar a bolsa, ela disse que eu ia sentir um líquido saindo, mas a verdade é que ela estourou a bolsa e quase não saiu líquido nenhum. Então a ordem agora era esperar a dilatação aumentar (e as dores também), e assim foi durante a madrugada. As dores realmente aumentaram, ao ponto de eu pedir um remédio para dor. Tomei uma injeção e consegui dormir um pouco. 

Amanheceu o dia e a médica veio me examinar de novo. E aí? 4 quase 5 centímetros de dilatação. Este momento, exatamente este momento, eu chamo de início do desespero (quem assistiu a “A Procura da Felicidade “?) Eu já estava no hospital há praticamente 24 horas, desde a sexta-feira sentindo contratações e nem na metade da dilatação necessária eu tinha chegado. Já comecei a me arrepender e na minha cabeça eu só pensava: "Pra quê que eu inventei esse negócio de parto normal?" Daqui a pouco a médica vai vir aqui e falar: "Minha filha, vamos pra faca."

Não foi o que aconteceu, a médica disse que a partir daquele momento eles iriam começar a usar ocitocina sintética para acelerar a dilatação e as contratações, e as dores iriam vir mais fortes. Eu, que já estava quase chorando de dor, já pedi de cara a epidural, e a médica disse: "Vamos esperar um pouco e blablablá." Mas o negócio foi rápido. Rapidinho eu já tava chorando de dor e dizendo: "Traga logo essa anestesia minha filha." 

O anestesista veio, esperou o tempo entre uma contratação e outra, aplicou a anestesia e eu deitei. Tiro e queda, literalmente. A dor passou totalmente, minhas pernas adormeceram e eu dormi feito uma pedra por umas 3 horas (estava desde domingo sem dormir direito e sem comer).

Quando eu acordei a enfermeira foi verificar a dilatação e para minha surpresa tava 8cm. Nem acreditei! Minhas pernas estavam pesadas, então a enfermeira me ajudou a me virar de um lado para o outro para ajudar a dilatação. Depois de pouco tempo, 9cm de dilatação, disse pra Bruno: "Acho que agora vai." Chegamos em 10cm de dilatação rapidinho e agora era a hora crucial: O famoso período expulsivo. 

Eu já tinha assistido dezenas de vídeos de parto: normal, cesárea, em casa, no hospital, na piscina, no chuveiro, até na casinha de sapê. Eu tinha lido um monte de relatos de parto e toda hora durante esse processo eu ficava pensando: Com Fulana foi assim, com  Ciclana foi assado, Beltrana disse isso. Me ajudou muito ter me informado a respeito de tudo, mas a prática é a prática. 

A enfermeira disse: "Você tem que fazer força como se estivesse com dor de barriga." Eu pensei: Ok, já li sobre isso, vamos colocar em prática a teoria. Com 15 minutos, a enfermeira disse: "Já tô vendo que ela tem o cabelo preto." Aí eu pensei: moleza, já já ela nasce. O problema era que por conta da anestesia eu não tava sentindo as contrações e tinha que fazer força na hora que a enfermeira dizia. Eu estava sem comer desde o domingo à noite (e já era meio dia da terça-feira). Passaram 15, 30, 45 minutos e eu fazendo essa força, tentando controlar um músculo que eu não estava sentindo. Aí disse pra médica: "Não consigo, não tô sentindo a contração, não tô fazendo esse negócio direito." Então ela aconselhou diminuir a dosagem da anestesia para eu poder sentir a contração e fazer a força na hora certa.

Rapidinho voltei a sentir as dores e a fazer força durante as contrações. Mas a menina nada de sair. Eu só falava: "Eu não aguento mais, eu quero comer, eu tô com fome." Mas só ouvia de volta: "Falta pouco, você tá progredindo." Duas horas e nada. Já tinha me virado em todas as direções dos pontos cardeais. Pra cima, pra baixo, direita, esquerda. Vomitei de fome (aquele vômito que só sai aquela coisa amarela). Já tava chorando, orando alto: Jesus, tem misericórdia da minha vida, me ajuda. E nada. Mesma coisa: força durante as contrações e a médica dizia: "Tô vendo a cabeça dela." Só que ela ia e voltava. Chegou uma hora que eu disse a Bruno chorando: "Eu não consigo, não consigo, não aguento mais." E realmente eu achei do fundo do meu coração que não iria conseguir. A enfermeira disse: "Você consegue sim, já tá perto." Já faziam duas horas que estávamos nesse período expulsivo. 

De repente a enfermeira disse: "Agora vai, tá perto, vou chamar a equipe médica." Eu abaixei a cabeça, quando levantei novamente tava um batalhão de médicos, enfermeiros, pediatra, residentes na minha frente. Aí eu pensei: É, acho que agora vai mesmo. Continuei fazendo força durante as contrações e em uma delas senti a cabeça encaixar. E o tal do círculo de fogo que eu tanto li tava dizendo: “Oi , esse sou eu.” Outra força e saiu um pouco da cabeça, mas só a metade, acho que até a testa, e ficou. Nesse momento eu comecei a dizer: “Tira, tira, tira essa menina daí." "Ó as ideia". Eu tava tão exausta que achava que não tinha mais força pra nada, pensei: agora eles pegam um desentupidor de pia, colam na cabeça dela e puxam, ou então faz uma trança no cabelo dela e arranca ela daí porque por mim, acabou. Mas a dor era tanta que sem esperar outra contração instintivamente eu fiz outra força e ela saiu de uma vez. Cabeça e corpo. Que alívio!

Na mesma hora, toda a equipe ficou feliz, Bruno ficou feliz, todos me davam os parabéns e diziam: "Olha para sua filha." Minha reação? Levantei minha mão e disse: "Calma, espera." Sinceramente, eu só queria deitar e respirar. Mesmo assim colocaram Deborah em cima de mim e Bruno tirou uma foto. Ali eu estava completamente exausta, destruída, no meu limite. A médica disse que eu iria sentir sair a placenta (e realmente senti) e precisei levar um ponto por conta da laceração. 

Li muito e ouvi muitas mães dizendo que depois que a criança nasce a dor passa como mágica. Sinceramente, para mim, achei que passou 90%. Eu sempre desconfiei que não dá pra ficar 100% tão rápido. Mas em menos de 2 horas me levantei (com ajuda) e caminhei até o banheiro, pra mim isso foi o máximo, já que nas cesáreas anteriores eu passei no mínimo 12 horas para me levantar.

Sei que essa saga toda só foi possível primeiramente pela Graça de Deus e por alguns fatores que eu estava consciente em todo o processo:

- [ ] Desde o momento em que eu entrei no hospital minha pressão e batimentos cardíacos ficaram estáveis, os batimentos cardíacos de Deborah também. Caso ocorresse qualquer alteração que os médicos julgassem grave, eles iriam me encaminhar para a cesárea.
- [ ] Recebi um atendimento excelente em termos de atenção, todas as enfermeiras, médicas e residentes que entravam no quarto estavam sempre focadas em mim e na bebê. Ninguém ficou comentando resultado de jogo de futebol ou outra conversa aleatória. Isso me deu segurança e confiança 
- [ ] Não tive doula, mas li bastante sobre o trabalho de doula. Inclusive indico o perfil da Pamela. Lá eu encontrei muitas informações que me ajudaram no processo todo. 
- [ ] Li e assisti um monte de vídeo na internet sobre parto. Passei a seguir um monte de obstetra no Instagram. Indico o perfil da Kezia Navarro que com muita gentileza me respondeu um Direct quando eu estava com 39 semanas de gestação e eu queria saber sobre indução de parto.
- [ ] Apesar de ter passado 30 horas desde o momento da minha internação até a Deborah nascer, eu sabia quais procedimentos poderiam ser aplicados em mim. Claro que fiquei o tempo todo comparando. Hum, com aquela pessoa fizeram isso também. 
- [ ] E o mais importante para mim: Sabia que desde a gestação e principalmente nessas últimas 30 horas havia irmãos e familiares orando por mim. E mais: Deus preparou anjos para cuidar da minha família fisicamente também. Imagina a engenharia que tivemos que fazer com Davi e Pedro nesse processo. 

Ok, agora quero relatar uma parte que não tinha lido em nenhum relato de parto. Como é o pós parto: 

Bem, eu já imaginava que no parto normal a recuperação era mais rápida e sem muitas intercorrências. Realmente já nos primeiros dias eu levantava sozinha à noite para amamentar, sem precisar que Bruno me ajudasse. Eu sei que há mulheres que mesmo após uma cesárea dizem que não sentem nada, fazem tudo, levantam, cantam e dançam. Não foi assim comigo nos partos anteriores, então eu senti uma diferença enorme neste último. Claro que não ficamos 100% nos primeiros dias. Senti o ponto até o 7º dia e usar o banheiro também não é 100%, mas ainda é melhor que a cesárea. O que eu realmente não esperava era ter que voltar ao hospital. 

No 9º dia, dia em que levei a Deborah ao pediatra, estava em casa normalmente, amamentando, quando senti que estava sangrando mais que o normal. Até aí tudo bem, continuei sentada, mas percebi que o sangue iria vazar para a cadeira. Coloquei Deborah no berço e sai para a cozinha para ligar para Bruno. Senti o sangue escorrer até o chão. Liguei para Bruno e disse que estava sangrando mais que o normal e que a médica disse que se isso acontecesse eu deveria ligar para o hospital.

Fui tomar banho e trocar de roupa, enquanto eu tava no chuveiro começou a sair coágulos de sangue, muito coágulo, entupiu o ralo do banheiro e eu comecei a ficar tonta e sei lá por quê minha reação foi gritar. Chamei os meninos e pedi que ligassem pra Bruno voltar para casa urgente. Até então não tinha ligado para o hospital. Terminei o banho. Liguei para o hospital. Falei com a médica de plantão o que tava acontecendo, mas não sei se o meu inglês tava muito ruim (falar ao telefone é a pior parte para mim) ou se ela queria ter certeza do que eu tava falando, mas ela disse que retornaria à ligação com um intérprete. 

Deitei na cama, Bruno chegou e o sangue não parou. Quando dei por mim, minha cama já estava uma poça de sangue. O hospital retornou para mim quase meia noite (eu liguei era umas 8 da noite) expliquei tudo novamente e a médica disse que eu deveria ir para a emergência fazer uma avaliação. Só que Davi e Pedrinho já estavam dormindo e não tinha como deixá-los sozinhos. Decidimos esperar eles irem para a escola no outro dia pela manhã e então ir para o hospital.

Cheguei no hospital no outro dia (sexta-feira pela manhã). Fiz exames de sangue, urina e ultrassom. Pela quantidade de sangue que eu perdi talvez fosse necessário transfusão de sangue. Vou dizer, sempre doei sangue, mas imaginar ter que receber transfusão de sangue me apavorou. Graças a Deus não foi necessário. Mas na ultrassom a médica viu que tinha ficado ainda muitos coágulos no útero e provavelmente resto de placenta também. A indicação era fazer uma curetagem e ficar mais um dia no hospital ou tomar remédio e ir para casa esperar expelir sozinha. Momento de decisão difícil. Com quem Davi e Pedrinho vão ficar? Eu vou poder continuar amamentando? Bruno vai poder ficar comigo?

Enfim, ligamos para minha sogra e ela disse que era melhor fazer a curetagem. Liguei para minha mãe e ela disse a mesma coisa. Como disse antes, Deus preparou anjos para nos ajudar e os meninos já tinham onde ficar. Eu não iria precisar parar de amamentar. E se eu fosse para casa e não expelisse tudo teria que fazer a curetagem de todo jeito. 

Então eu disse pra médica que iria fazer a curetagem e começaram a preparar tudo. A médica veio conversar comigo e a residente que estava com ela era a mesma que tinha me atendido várias vezes no pré natal. Elas me deram os parabéns por ter conseguido ter o parto normal depois de duas cesáreas e eu disse a elas: Grande coisa, de qualquer forma, aqui estou eu no hospital.  Fui ter trabalho para não ter trabalho e não adiantou nada. Aí foram me acalmar e dizer que a curetagem não era um procedimento tão complicado como uma cesárea, mas naquela hora senti que eu já não tava no meu normal.

Fui levada na maca pelos corredores para uma sala cheia de equipamentos. Isso me deu uma sensação de vulnerabilidade tão grande que nem sei explicar. Quando entrei na sala e o anestesista começou a dizer que ia colocar a anestesia na veia e tal eu comecei a chorar. Os médicos prenderam meus pés, meus braços, colocaram uma máscara de oxigênio e eu olhei pro teto e orei: Jesus, fica comigo. Apaguei.

Quando abri os olhos olhei para a enfermeira e perguntei: Já? Eu estou na mesma sala? Quanto tempo já passou? Já tinham feito o procedimento, eu já tinha ido para outro lugar e já tinha passado 30 minutos. Para mim era como se não tivesse acontecido nada, nenhuma dor, nenhum incômodo. Mas uma sensação de vazio tomou conta de mim e eu pensei: Se eu tivesse morrido eu nem teria percebido. Fiquei meio desnorteada com essa ideia e comecei a chorar de novo. 

A médica voltou, disse que tinha dado tudo certo. Que eu poderia até voltar para casa no mesmo dia. Já era umas 10h e eu não estava me sentindo bem, eu disse que não queria ir para casa e enquanto estávamos conversando comecei a sentir dores fortes na barriga e comecei a ter diarréia. Pra se ter uma ideia as enfermeiras não davam conta de trocar os lençóis. Passei umas 3 ou 4 horas assim. E durante esse processo tendo que amamentar. Bruno ficou comigo todo o tempo, eu não podia me levantar sozinha. Então ele pegava Deborah no bercinho, me entregava, ela mamava e ele trocava a fralda e colocava ela para dormir novamente. Esse tipo de momento é o que faz valer o na “saúde e na doença."

Me deram um remédio para controlar a diarréia, melhorei. Mas quando era umas 4:30 da manhã tive febre. A enfermeira chamou a médica e a médica me disse que iam me dar um antibiótico porque poderia ser um começo de infecção. Aí o puerpério gritou dizendo tô aqui. Pensei: Pronto, daqui a pouco vão dizer que vão ter que retirar meu útero. Pra que eu inventei de ter parto normal, pra que eu inventei de ter outro filho e chorava. Nesse momento eu mesma tive que dar um tapa na minha cara. Bruno me disse: Hellen, eu conversei com o esposo de uma mulher que estava fazendo a mesma coisa que você fez, mas eles perderam o bebê. E Deborah tá aqui, saudável. Eu quis ter raiva de Bruno nessa hora, achava que ele não estava se colocando no meu lugar, mas ele estava certo. Então tive que começar a raciocinar e saber que aquele não era o tipo de pensamento que eu mesma teria, eu tinha que ter consciência de que eu não tava no meu normal. Então sempre que esse tipo de pensamento vinha, eu pensava: Essa não sou eu.

Tomei o antibiótico, não tive mais febre. A diarréia passou. Pensei que sairia no sábado, mas tive que ficar até o domingo para ter certeza que o antibiótico tinha feito efeito. Voltei para casa ainda meio abalada. Mas sem dores. Deborah se comportou como uma mocinha durante todo tempo que ficamos no hospital. Só chorava baixinho para mamar ou trocar a fralda. Isso nos ajudou muito.

Hoje, mais de 30 dias depois, estamos super bem. Eu descabelada e com olheiras e ela virando uma bolinha de fofura. Agradeço a Deus por ter me dado forças para passar por tudo isso. Sei que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus. Tudo isso serviu de experiência para mim e testemunho para quem lê. Louvo a Deus pelas pessoas que ele preparou para nos ajudar. Sei que isso é fruto da intercessão da minha família, amigos e irmãos que não estão perto de mim fisicamente. Como digo sempre: Nem se um dia eu for milionária eu poderei retribuir o favor que já fizeram por mim desde que eu cheguei aqui. Mas eu sirvo ao Deus que pode tudo. ELE é quem pode retribuir dando o que eu jamais poderei. A todas as pessoas que oraram por mim, que me ajudaram estando perto, cuidando dos meus filhos, ficando comigo no hospital, me ouvindo eu digo: Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho te dou: Levanta e anda. Só Deus pode recompensar. 

O relato ficou enorme, mas agradeço a paciência de ler tudo. Deus abençoe a vocês !